segunda-feira, 28 de julho de 2008
Último ato
Sai de cena o poeta junto à prepotência,
E vai sua poesia enroscada na demência.
Entra em cena o doente, a dor propala:
Mesmo que meu corpo ao bolor se curve,
Que o canto esvaia abafado e incorreto
E o rebento perante o amor se turve,
Quero que seja o último ato, o ato certo.
Que eu me mate num gesto de estrelismo.
Mas antes do verme debicar o agre gosto
E a vida finar-se em seu singular mutismo,
Que seja da eternidade o último abraço,
Uma lágrima sincera caia-me sobre o rosto
E meus versos cruzem o tempo-espaço.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Engenharia Reversa
O vigário que beatifica, desconjura.
E a mão que iça a lança, reza o terço.
A sombra que traz o medo dá o abrigo.
No azul que cobre o céu cruza o fogo,
Do chão que brota o verme vem o trigo
E a mão que dá as cartas, finda o jogo.
O mesmo Deus que perfilha, ignora.
A poesia que transcorre se desgasta
E a palma que se cerra, nos implora.
A mão que dá o nó arquiteta o corte,
A que diz de amor, ergue a vergasta
E a que conta a vida, versa a morte.
terça-feira, 17 de junho de 2008
Inversão dos Papéis.

Hoje te quero nua, poesia!
De peito e pernas abertas,
Passiva, boquinha fechada,
E uma rosa entre os dentes.
Quero assim, apaixonada.
Com o sorriso no rosto,
Como o desejo do gozo,
Coberta de flores e ramas.
Não me diga de amores,
De mágoas ou dramas.
Venha branda, branca,
Sem métrica e escansões.
Quero sem nenhuma rima!
E que se dane a estética,
A tétrica, a obra prima,
E outras entonações.
Te quero de feitio simples.
De olhar relampejado,
Covinha na bochecha
E um sinal na buceta.
Não me diga de ontem,
De mim ou de outrem.
Faz cara de misteriosa,
De astuta, de jocosa!
Te quero no céu da língua,
Na ponta dos meus dedos,
No meio dos meus erros,
Fazendo parte da bagunça.
Dando a cara à tapa,
Lambendo da raspa
Mas sem perder a pose.
Te quero sem rótulos,
Despudorada, sem ética,
Sem bancar a hermética
Ou dar de moça dengosa.
Te quero assim, poesia,
Deitada na minha cama,
Pra eu te chamar de vadia
E fazer uma prosa gostosa.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Viagem.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Valsa maldita.
Bailando trôpego com o par errante.
Eis-me, outra vez, de passo incerto,
Sendo no vórtice louco, a variante.
Eis-me entregue como na orgia
Ao que volve lenta essa música.
Eis-me na dor, como na poesia
E na valsa como se fosse a única.
Eis-me cego ao que me consome.
Taciturno ao que me ensurdece.
Leso, sem ouvir da valsa o nome.
Eis-me distante como quem evita,
O Par, a dança, a música e a prece.
Eis decerto, minha valsa maldita.
Jairo Alt